Desde o início da guerra, Erdogan tem tentado assumir um papel de mediador entre Kiev e Moscovo, por um lado, insistindo que a soberania e a integridade territorial da Ucrânia devem ser respeitadas — incluindo as regiões do Donbass e a Crimeia –, e, por outro, mantendo boas relações com a Rússia. Ancara não aderiu às sanções da União Europeia contra a Rússia, e Erdogan já se reuniu quatro vezes em 2022 com o seu homólogo russo, Vladimir Putin, sendo que última ocorreu na semana passada no Cazaquistão. Mas, no entanto, o chefe de Estado turco mostra publicamente o seu apoio a Zelensky, tendo o revelado em agosto, quando viajou para Lviv, com o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, para se encontrar com o líder ucraniano. A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas — mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,7 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A invasão russa — justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas. A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.306 civis mortos e 9.602 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
A Rússia irá reconsiderar a continuidade da sua cooperação com o secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, caso a organização envie à Ucrânia uma missão para inspecionar a utilização de ‘drones’ iranianos na guerra.
Oalerta foi feito pelo representante permanente adjunto da Rússia na ONU, Dmitry Polyanskiy, após uma reunião do Conselho de Segurança para debater o suposto uso de ‘drones’ (aeronaves não-tripuladas) iranianos pelo Kremlin, não tendo entrado em detalhes em relação à cooperação que pode ser afetada.
Após a reunião, a Rússia e o Irão acusaram o Ocidente de “tentar atingir dois alvos de uma só vez” através de uma campanha de desinformação.
Dmitry Polyanskiy afirmou que todas as armas usadas no conflito são fabricadas na Rússia, pelo que as acusações dos países ocidentais não passam de “teorias da conspiração”, “sem nenhuma evidencia”.
“Trata-se de uma campanha de desinformação das delegações ocidentais. Querem atacar dois alvos de uma só vez. (…) Querem colocar pressão no Irão. São teorias da conspiração e nenhuma evidência foi apresentada ao Conselho de Segurança. Todas as armas são feitas na Rússia. Podem ver as ‘marcas’ nessas armas”, disse.
“Nenhum drone foi fornecido pelo Irão à Rússia. Sabemos o que fazemos e como fazemos”, acrescentou o diplomata russo.
A reunião do Conselho de Segurança da ONU, à porta fechada, decorreu a pedido dos membros ocidentais, para debater a alegada presença de ‘drones’ iranianos na guerra russa na Ucrânia, enquanto a União Europeia prepara sanções contra Teerão.
Na reunião, a Ucrânia acusou o Irão de violar uma proibição do Conselho de Segurança sobre a transferência de drones capazes de voar 300 quilómetros e convidou especialistas da ONU a visitar o país para inspecionar drones de origem iraniana alegadamente usados pela Rússia contra alvos civis.
Uma carta do embaixador da Ucrânia na ONU, Sergiy Kyslytsya, dirigida ao secretário-geral, António Guterres, e aos membros do Conselho de Segurança foi obtida pela agência Associated Press antes da reunião à porta fechada, que foi solicitada pelo Reino Unido, França e Estados Unidos para abordar a suposta venda de centenas de drones à Rússia.
“As carcaças dos drones que aterraram no chão têm inscrições em russo. (…) É absurdo e hipócrita que essas alegações venham de um país como os Estados Unidos”, atirou o embaixador russo.
“Temos a nossa indústria de drones, que produz o material que precisamos para esta campanha. E todas essas alegações estão inteiramente na consciência dos nossos colegas ocidentais”, acrescentou.
Questionado sobre o motivo de se opor a uma missão da ONU no terreno para investigar a proveniência dos drones, o diplomata russo alegou que “não existe um mandato” para esse efeito e que “não seria profissional, seria político”.
Polyanskiy também afirmou “não estar otimista” em relação à renovação do acordo para exportação de grãos da Ucrânia pelo Mar Negro, porque “foram prometidas coisas que não estão a ser cumpridas” e “os produtos russos continuam fora do mercado”.
Já o principal diplomata iraniano na ONU, Saeed Iravani, argumentou que o Irão tem cooperação de defesa com a Rússia há muitos anos, mas que Teerão não apoia a guerra na Ucrânia, nem forneceu nenhuma arma fabricada pelo seu país à Rússia para uso na guerra contra a Ucrânia.
“Sempre fomos e ainda nos opomos fortemente à guerra e ao armamento de qualquer lado em guerra e dissemos aos oficiais ucranianos que mostrassem qualquer evidência que pudessem provar o uso de drones iranianos na guerra na Ucrânia”, disse Iravani.
“O Irão rejeitou categoricamente as alegações infundadas de que transferiu drones para o uso do conflito na Ucrânia. (…) Essas acusações fazem parte da agenda politica de alguns países contra o Irão”, defendeu.
Na rede social Twitter, o embaixador ucraniano informou que a questão dos drones iranianos usados contra civis voltará a ser abordada o conselho de Segurança na sexta-feira.
Em Bruxelas, a diplomacia europeia anunciou hoje ter reunido “provas suficientes” que demonstram que os ‘drones’ utilizados pela Rússia contra a Ucrânia foram fornecidos pelo Irão e disse estar a preparar sanções e “uma resposta europeia clara, rápida e firme”.
Uma lista de sanções foi submetida à aprovação dos Estados-membros do bloco europeu e é esperada uma decisão “durante esta semana”, disse uma fonte diplomática.
A Força Aérea ucraniana indicou hoje ter destruído 223 ‘drones’ iranianos desde meados de setembro.