Irão. Execuções mostram que o regime tem “medo do seu próprio povo”
O governo dos Estados Unidos referiu hoje que as execuções no Irão de dois manifestantes, que participaram nos protestos antigovernamentais que decorrem há três meses, mostram que o regime da República Islâmica teme a sua própria população.
“Estas sentenças duras, e agora a primeira execução pública [associada aos protestos], são realizadas para intimidar o povo do Irão. São projetadas para silenciar a oposição e simplesmente mostrar o quanto a liderança iraniana está assustada com o seu próprio povo”, salientou o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Ned Price.
Majidreza Rahnavard, de 23 anos, tinha sido condenado à morte por ter esfaqueado dois membros das forças de segurança e ferido quatro pessoas, segundo a agência Mizan, da Autoridade Judicial iraniana.
O jovem foi enforcado em público em Mashhad, no nordeste do Irão, noticiou a agência France-Presse (AFP).
Esta é a segunda execução associada aos protestos desencadeados pela morte da jovem iraniana Mahsa Amini, em 16 de setembro, mas a primeira em público, após o enforcamento, em 08 de dezembro, de Mohsen Shekari, também de 23 anos, condenado por agredir e ferir um paramilitar.
Também o secretário-geral da ONU, António Guterres, considerou esta segunda-feira que as circunstâncias em torno da execução de Rahnavard são “particularmente cruéis” e pediu às autoridades iranianas que cessem a aplicação da pena de morte.
“Não há lugar para a pena de morte e queremos garantir que não se levam a cabo mais execuções”, disse um porta-voz da ONU, Farhan Haq, quando questionado sobre o assunto.
Estas execuções provocaram indignação em todo o mundo.
Pelo menos duas dezenas de manifestantes iranianos enfrentam uma possível execução como resposta das autoridades à participação nos protestos contra o Governo, de acordo com uma reportagem publicada, no sábado, pelo jornal local Etemad.
A publicação deu a conhecer uma lista elaborada pelas autoridades iranianas em que 25 manifestantes são acusados de “travar uma guerra contra Deus”, acusação que, ao abrigo a lei iraniana, é punível com a morte.
O Irão é palco de protestos desde meados de setembro, quando Mahsa Amini, uma jovem curda, morreu sob custódia da polícia depois de ter sido detida por não usar o véu adequadamente e violar os códigos de vestuário islâmicos.
Desde então, protestos são reprimidos violentamente pelas autoridades, que ganham novas sanções impostas pela comunidade internacional por questões relacionadas com os Direitos Humanos.
No entanto, Teerão considera que a maioria dos iranianos apoia o Governo e acusa inimigos do país e mercenários de estarem por detrás dos protestos maciços.
Em quase três meses de protestos, morreram mais de 500 pessoas e pelo menos 15 mil foram detidas, de acordo com a organização não-governamental (ONG) Iran Human Rights.
Por seu lado, as autoridades iranianas estimaram em 300 o número de mortos, 50 dos quais membros das forças de segurança do país.
Depois de quase três meses de contestação social, foi anunciada a dissolução da polícia da moralidade, responsável pela detenção e morte de Amini, sem que este anúncio não acalmou a situação.
Mas o desaparecimento das patrulhas daquela força policial não implicou o fim das leis que impõem o uso obrigatório do véu e de outras normas sociais rígidas no país.