Pais depois da morte? Combatentes ucranianos estão a congelar esperma
É o caso de Vitalii Khroniuk, um jovem de 29 anos, que decidiu tentar a criopreservação – o processo de congelamento de esperma ou óvulos – com receio de morrer na guerra sem nunca ter sido pai.
Com um país devastado pela guerra, a morte torna-se um medo constante entre o povo ucraniano que ainda permanece no país. Entre os soldados que combatem na linha da frente, há a consciência de que podem nunca voltar a casa.
Muitos deles, segundo a agência Associated Press esta terça-feira, estão a congelar esperma. É o caso de um jovem, de 29 anos, que decidiu tentar a criopreservação – o processo de congelamento de esperma ou óvulos.
Vitalii Khroniuk recorreu a este processo, com receio de morrer na guerra sem nunca ter sido pai.
“Não é assustador morrer, mas é assustador quando não se deixa ninguém para trás“, referiu Khroniuk, que se juntou à guerra sem pensar no futuro, pouco tempo depois de a Rússia ter invadido a Ucrânia há um ano atrás.
A decisão aconteceu numa viagem a casa para “férias” em janeiro, altura em que se dirigiram a uma clínica privada em Kyiv, que está a reduzir os custos do processo para os soldados ucranianos.
A clínica ‘IVMED’ teve cerca de 100 soldados que congelaram o esperma desde o início da invasão, referiu Halyna Strelko, diretora da clínica. “Não sabemos de que outra maneira ajudar. Só podemos ajudar a fazer crianças. Não temos armas, não podemos lutar, mas o que fazemos também é importante“, acrescentou à mesma agência de notícias.
Quando Khroniuk falou com a companheira, Anna Sokurenko, de 24 anos, sobre este processo que gostaria de fazer, houve insegurança da sua parte. “Foi muito doloroso perceber que existe a possibilidade de ele não regressar“, destacou Sokurenko, denotando que foi necessária uma noite de reflexão para que concordasse.
Anna acredita agora que a possibilidade de ter um filho, mesmo se o parceiro for morto, poderá ajudar a reduzir a dor da perda.
As histórias de Nataliia, Oles e Iryna
Nataliia é viúva de um combatente ucraniano e engravidou do marido quando o visitou na linha da frente, meses antes de este morrer. O companheiro ainda viu a filha numa ecografia e, numa visita a casa, aproveitou para congelar o esperma.
“Amamo-nos muito durante 18 incríveis anos“, destacou a mulher de 37 anos, que espera conseguir usar o esperma para ter um segundo filho do companheiro.
Oles e Iryna são um casal de Kyiv que também optou pela criopreservação, enquanto Oles luta na região de Donetsk. “Sim, é uma vida difícil, com preocupações, bombardeamentos, com ansiedade constante pelos familiares. Mas, ao mesmo tempo, é o que é”, destacou Iryna, acrescentando que “é melhor sermos pais agora do que adiar até que não possa mais ter filhos“.