Itália aprova extradição de padre procurado por assassínio e tortura
O ministro da Justiça da Itália, Carlo Nordio, aprovou a extradição, passível de recurso, de um padre italiano procurado pela Argentina sob a acusação de assassínio e tortura durante a ditadura militar do país, indicou hoje fonte judicial.
Segundo Arturo Salerno, advogado que representa a Argentina, Nordio assinou quarta-feira o pedido de extradição do reverendo Franco Reverberi, um padre de 85 anos que serviu como capelão militar durante a ditadura militar argentina de 1976-1983.
No entanto, de acordo com um grupo italiano de direitos humanos que acompanha o caso, Reverberi está a recorrer da sua extradição para o principal tribunal criminal de Itália e só se espera uma decisão dentro de semanas.
Hoje à noite, a embaixada da Argentina em Roma emitiu um comunicado em que confirma a aprovação da extradição, dando também conta do recurso de Reverberi.
Devido a um erro administrativo, o ministro da Justiça italiano não tinha conhecimento do recurso quando emitiu a sua decisão na quarta-feira, explicou Jorge Ithurburu, que representa o grupo de advogados ’24 de março’ de 1976, data do golpe de Estado apoiado por Washington e que instaurou uma ditadura militar na Argentina.
Mesmo que o tribunal superior rejeite o recurso de Reverberi, o ministro da Justiça terá de decidir novamente sobre a extradição, disse Ithurburu.
“A apresentação do recurso pelo arguido constitui um exercício legítimo do seu direito de defesa e esta embaixada continuará a participar no processo de extradição para obter a confirmação da sentença”, declarou a missão diplomática argentina em Roma.
O Ministério da Justiça italiano ainda não avançou com quaisquer novas informações sobre a evolução da situação.
Entretanto, Reverberi tem de se apresentar todos os dias na esquadra da polícia local em Sorbolo, uma pequena cidade na região italiana de Emilia-Romagna, onde nasceu e onde ocasionalmente vai à missa, disse Salerni.
Reverberi, que tem cidadania italiana — emigrou para a Argentina quando tinha sete anos –, é procurado para ser julgado no país sul-americano por acusações que incluem o assassínio, em 1976, de José Guillermo Berón, de 22 anos, e a tortura de vários outros homens, segundo Salerni.
A suposta tortura ocorreu na cidade de San Rafael, perto de Mendoza, Argentina, disse Salerni.
Reverberi deixou a Argentina em 2011 depois de o primeiro julgamento por crimes contra a humanidade cometidos durante a ditadura ter ocorrido na província ocidental de Mendoza, em que os testemunhos de sobreviventes e familiares “começaram a apontar responsabilidades para o padre”, segundo o Governo argentino.
“Estamos interessados em saber onde o corpo foi enterrado. Esperamos que o padre saiba”, para que a família possa ser informada, acrescentou Ithurburu.
Várias organizações de direitos humanos afirmam que cerca de 30.000 pessoas foram mortas ou desapareceram durante a ditadura militar argentina.
A decisão do Ministério da Justiça italiano “reflecte uma visão partilhada por ambos os países relativamente aos crimes contra a humanidade e um compromisso conjunto de luta contra a impunidade. Além disso, abre um precedente importante para a relação bilateral em termos de compromisso com a memória, a verdade e a justiça”, disse a embaixada argentina.
A hierarquia da Igreja Católica na Argentina tem sido amplamente criticada por estar aliada ao regime militar argentino, que levou a cabo uma campanha para deter ilegalmente e matar pessoas consideradas “subversivas”.
Quando o Papa João Paulo II visitou a Argentina, em 1987, os críticos lamentaram o facto de não ter denunciado o apoio da igreja aos governantes militares, especialmente porque o pontífice tinha acabado de chegar do Chile, onde tinha denunciado a ditadura militar do general Augusto Pinochet.
Durante o atual papado de Francisco, que é argentino, o Vaticano e os bispos do seu país natal terminaram de catalogar os arquivos da ditadura militar com o objetivo de os disponibilizar aos familiares das vítimas que há muito acusam os membros da Igreja de serem cúmplices da ditadura militar.