Um “orgulho imenso” encheu a Baixa do Porto durante o cortejo académico
De braço estendido e um ramo de flores na mão, Maria José Loureiro tenta encontrar a filha, finalista de Medicina, entre o imenso grupo que ocupa a rua em frente à tribuna, na Praça General Humberto Delgado, no Porto. “Inês, Inês”, ouve-se, enquanto o pai, Vítor Torres, também acena com o braço para tentar ajudar. “Chama-se Maria Inês Torres”, diz a mãe, a pedir ajuda ao grupo. Rápido aparece a filha, de cabelo ruivo como a mãe descreveu. Está a reservar aquele lugar desde o meio-dia. Valeu a pena.
E não foi a única. Entre os finalistas que seguem na frente do cortejo académico da Queima das Fitas do Porto é constante o movimento de tirar e voltar a guardar os telemóveis no bolso dos casacos dos trajes. Chovem chamadas dos pais que querem garantir a entrega de flores ou prendas de final de curso aos filhos.
David Lopes fala na vez da mulher, tomada pela emoção que se acumula nos olhos. Está orgulhosamente agarrada à pasta de finalista do filho. Mostra, envergonhada, entre os extensos textos apresentados nas fitas, a pequena dedicatória que escreveu, carimbada por uma das patas do cão Mondego.
Foram cinco anos a viver longe de João, também finalista de Medicina. A família é de Gouveia. “Estou muito orgulhoso. Nem sei bem explicar”, diz David, entre o soluçar da mulher, recordando o “caminho difícil” de todos para chegarem até aqui.
Mais acima, também a mãe de uma finalista, Rafaela Pinto, de Paços de Ferreira, espera pela filha, aluna de Psicologia na Universidade Católica Portuguesa, de quem tem “um orgulho imenso”. “Vai correr tudo bem. Ela é muito determinada”, sublinha.
“Praxe fez crescer”
São 14.10 horas. Caloiros e finalistas formam os grupos de cada curso e assumem a ordem definida no cortejo. Organizam-se na Rua de Camões, a partir do cruzamento com a Rua de João das Regras. Outros preparam-se na Praça da República e aproveitam para atividades de praxe.
Beatriz Costa, de 20 anos, é uma dessas finalistas. Termina agora o curso de Psicologia, também na Católica, e o sentimento é de “crescimento”. “Todos os anos vamos aprendendo. A praxe, para mim, foi uma das coisas que me fizeram crescer, a par das disciplinas do curso”, resume a aluna de Guimarães, com a mãe e irmã nas ruas à espera para a ver.
Para quem vai entrar, em setembro, na faculdade, deixa dois conselhos: “Muita ordem. Quando temos a casa organizada, a cabeça também. E não ter receio quanto à procura de casa. Os preços assustam mas tudo se consegue arranjar. É ter confiança”.
Momentos antes do pontapé de saída para o desfile, os caloiros também fazem a festa. Entre camiões carregados de “doutores”, ouvem-se os cânticos dos vários cursos. Entre quem procura o seu lugar no cortejo e famílias a tentar furar a multidão para chegar aos irmãos, filhos, sobrinhos, ou namoradas e namorados, quase não se consegue circular a pé na Rua de Camões.
Todos se queixam do calor. Bruna Rocha, 19 anos, e Beatriz Mesquita, 18, não são exceção, mas as alunas de Medicina garantem sentir, na sua estreia no cortejo académico, “uma energia que não dá para explicar”. “É um misto de emoções. Vamos deixar de ser caloiras. É muito emocionante, e por um lado triste, ver os colegas mais velhos ir embora”, descreve Beatriz. Por sua vez, Bruna admite ser “desafiante” conciliar os estudos e a praxe no primeiro ano de curso, “que exige muito”. “Mas ter este apoio de todas as colegas é fundamental para conseguir passar o ano”, resume.
Apesar de ainda ter muito caminho pela frente, Bruna já pensa no futuro: “Gostava mesmo que criassem condições para trabalhar em Portugal”. Beatriz acompanha: “Também gostava muito de ficar no país e passar os ensinamentos que a minha faculdade, que é portuguesa, me deu, para a população”.
“O fim de uma etapa”
A tribuna começa a compor-se, pelas 15.30 horas, com o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, o presidente da Assembleia Municipal, Sebastião Feyo de Azevedo, vários membros do Executivo, o presidente da Federação Académica do Porto, Francisco Porto Fernandes e também a presidente da Câmara de Matosinhos, Luísa Salgueiro.
O passo do desfile abranda para dar lugar às devidas saudações e há mesmo quem peça a Rui Moreira as tradicionais três bengaladas na cartola.
Mais atrás está Joana Mesquita, finalista de Engenharia Informática. “É o fim de uma etapa. Ainda falta entregar a tese mas é bom estar com toda a gente”, reconhece a estudante de Vila Real. Para Tomás Maul, 24 anos, só há mesmo uma forma de descrever o cortejo: “Alegria e euforia”. O estudante de Farmácia diz-se, contudo, algo “triste por estar a acabar”.