O futuro da demografia: a questão que ninguém quer resolver

Como prolongar a vida ativa? A reforma continua a fazer sentido? O apoio às famílias é um custo ou um investimento? Como reverter o “inverno demográfico”? O que fazer para evitar a fuga de talentos? Estado, empresas, organizações e academia “podem e devem” trabalhar juntos e, sobretudo, urge pensar o assunto. O Porto está envelhecido e a “fuga de cérebros” não pára. O problema, como explicou o presidente da Associação Comercial do Porto (ACP-CCIP), Nuno Botelho, exige mais do que “medidas de cosmética”. Foi para dar o seu contributo que a ACP-CCIP, organizou, com o apoio da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP), a conferência “O Futuro da Demografia – Desafios de uma Sociedade em Mudança”.

“A promoção do envelhecimento saudável é essencial, não só para a dignidade humana, mas também para aliviar as pressões sobre a Segurança Social e para aproveitar a vasta experiência e conhecimento que as gerações mais velhas podem continuar a oferecer”, afirmou o diretor da FEP, Óscar Afonso, abrindo a discussão. Academia, empresas e setor público devem, defende, “atuar em conjunto promovendo programas de qualificação, de prevenção da saúde e de adaptação dos locais de trabalho às populações mais envelhecidas”.

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“A demografia é um tema crucial que todos conhecem, mas de que ninguém quer falar. É um tema económico, mas também social. A solidão e o individualismo também têm consequências económicas”, alertou o presidente da Federação das Associações de Famílias Católicas na Europa. Vicenzo Bassi defende que “a família não pode ser vista apenas como um custo para o orçamento público, mas como um investimento no futuro da comunidade”. “Elas não geram só filhos. Geram capital humano e social, que, por sua vez, influencia o crescimento económico”, continuou.

“Os ombros mais largos devem suportar os maiores fardos”, frisou ainda, defendendo, a nível fiscal, o princípio da subsidiariedade e mais políticas de apoio à família. Idealmente, diz ainda, cada mulher deve ter dois filhos para que a sociedade “alcance um crescimento económico sustentável a longo prazo”. “Não é sexy falar de envelhecimento. Não veem ninguém a pintar o cabelo de branco”, frisou Eduardo Oliveira. O professor e investigador da FEP liderou uma investigação internacional em nove países, dos EUA à Europa e ao Japão. Queria perceber quais as condições necessárias para que os trabalhadores estivessem disponíveis para prolongar a sua vida ativa. Um clima organizacional, a preferência por trabalhadores mais velhos, a transferência de conhecimento, preparação financeira para a reforma são alguns dos temas. As mais de três mil respostas são um contributo, mas cada caso é um caso e as empresas têm mesmo que traçar o seu próprio caminho.

A população com mais de 60 anos deve crescer de 18% para 30% nos 27 países da União Europeia até 2060.