Estilista espanhola de origem cigana se consagra no mundo da alta-costura
A criadora espanhola de origem cigana Juana Martín consagrou-se nesta quinta-feira no mundo elitista da alta-costura com um desfile em Paris inspirado no flamenco e em sua terra natal, a Andaluzia.
No último dia da semana de alta-costura em Paris, Rossy de Palma, musa do cineasta Pedro Almodóvar, protagonizou o desfile de Juana Martín com um longo casaco bordado.
“Estou muito orgulhosa de Juana. Sempre a acompanhei, vi todo o esforço que fez, seu trabalho, seu talento”, declarou Rossy à AFP pouco antes do desfile.
– Couro e chapéu andaluz –
Aos 47 anos, Juana Martín é a primeira espanhola a entrar no mundo exclusivo da alta-costura, e primeira cigana a alcançar o ápice dos criadores de moda.
Boa parte das peças que Juana apresentou em Paris eram pretas, e os brincos enormes de prata em formato de rosas deram à coleção “a luz da Andaluzia”, explicou à AFP.
Os babados sutis evocaram os vestidos de flamenco, mas os cortes assimétricos e os sapatos baixos deram um ar moderno aos looks. Também havia desde vestidos com mangas voluptuosas até os mais retos, bem como jaquetas modernas.
Sobre um pódio, a criadora porta um chapéu andaluz e uma calça excêntrica com fendas. A cor da coleção é dada por um chapéu laranja, combinando com luvas.
“O trabalho de muitos anos é reconhecido”, comemorou Juana, uma trabalhadora incansável, que conseguiu seu ingresso nesse mundo exclusivo apresentando por quatro anos suas coleções em desfiles parisienses paralelos à semana da alta-costura.
– ‘Talento universal’ –
Apenas três estilistas espanhóis – Josep Font, Cristóbal Balenciaga e Paco Rabanne – haviam atingido o ápice da moda.
Juana nasceu em Córdoba (sul da Espanha) em 1974, em uma família modesta de origem cigana. Seu pai possuía uma confecção e trabalhava como vendedor ambulante nos mercados da região. Nessas confecções, Juana aprendeu a sutileza do ofício: “com pessoas que trabalhavam à moda antiga, à mão”, contou à AFP em junho.
A carreira de Juana na moda começou em 1999, quando sua coleção foi selecionada (entre 150) para representar Córdoba no concurso nacional de jovens talentos da costura. Em 2005, ela se tornou a primeira mulher da Andaluzia e de origem cigana a desfilar na semana de moda de Madri.
“Era um sonho representar a Espanha, a Andaluzia, a mulher que trabalha, a mãe, a mulher que luta”, disse a estilista. “Ele tem um talento universal, mas algumas raízes, um folclore, umas tradições que faltavam”, destacou Rossy de Palma, que usou uma das peças de Juana nos festivais de cinema de Veneza e Cannes.