Trump diz estar “100% certo” de que haverá acordo com a União Europeia sobre tarifas

Os dois dirigentes reúnem-se numa altura em que as relações entre os Estados Unidos e a União Europeia (UE) estão tensas, desde a guerra comercial iniciada por Trump ao impor novas tarifas aduaneiras a todos os parceiros comerciais.

O chefe de Estado norte-americano afirmou hoje que “não há pressa” em alcançar acordos comerciais, devido às receitas que as suas tarifas estão a gerar, mas sugeriu que será fácil chegar a um acordo com a UE e outros parceiros comerciais, como a China.

O seu Governo indicou que estão a chegar propostas de outros países e que é possível fazer 90 acordos durante a moratória tarifária de 90 dias, mas Trump descartou a probabilidade de um calendário acelerado, afirmando que algum tipo de acordos será alcançado “a uma determinada altura”.

“Não temos pressa”, observou o inquilino da Casa Branca, dando a entender que está numa posição de vantagem porque os outros países querem ter acesso aos consumidores norte-americanos.

O encontro de Meloni com Trump irá testar a sua habilidade como ponte entre a UE e os Estados Unidos.

Ao recebê-la, Trump classificou-a como uma dos verdadeiros líderes mundiais.

A chefe do Governo italiano é a primeira líder europeia a falar cara a cara com Trump desde que este anunciou e suspendeu provisoriamente os direitos aduaneiros de 20% sobre as exportações europeias.

Meloni agendou a reunião na qualidade de líder italiana, mas também foi, de certa forma, “nomeada” para representar a UE num momento crítico da guerra comercial em rápida evolução, que está a alimentar receios de recessão.

Antes da viagem, esteve em contacto direto com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e “a abordagem está (…) estreitamente coordenada”, afirmou uma porta-voz da Comissão.

A UE está a defender aquilo a que chama “a relação comercial mais importante do mundo”, com o comércio anual com os Estados Unidos a totalizar 1,6 biliões de euros (1,8 biliões de dólares).

O Governo Trump afirmou que os direitos aduaneiros do país permitiriam negociações comerciais que eliminariam a China, o principal produtor mundial. Mas Trump afirma que tanto os adversários como os aliados se têm aproveitado dos Estados Unidos em matéria de comércio.

As negociações comerciais são da competência da Comissão Europeia, que está a insistir num acordo tarifário zero-contra-zero com Washington.

Responsáveis do Governo Trump, em conversações com a UE, ainda não mostraram publicamente sinais de ceder à ordem do Presidente para cobrar uma tarifa de base de 10% sobre todas as importações estrangeiras.

Trump suspendeu por 90 dias o seu imposto inicial de 20% sobre os produtos da UE para que pudessem realizar-se negociações.

As margens de progresso de Meloni estão mais em obter clareza sobre os objetivos do Presidente republicano do que em concessões diretas, defendem os especialistas.

“É uma missão muito delicada”, afirmou Fabian Zuleeg, economista-chefe do Centro de Estudos de Política Europeia, em Bruxelas.

“Há toda a agenda comercial e, embora ela não esteja a negociar oficialmente, sabemos que Trump gosta de ter este tipo de diálogo informal, que de certa forma é uma negociação. Por isso, tem uma responsabilidade muito grande”, referiu.

Como líder de um partido de direita radical, Meloni — a única governante europeia a assistir à cerimónia de posse de Trump, a 20 de janeiro deste ano – está ideologicamente alinhada com Trump em questões como a contenção da migração, a promoção dos valores tradicionais e o ceticismo em relação às instituições multilaterais.

A área em que surgiram diferenças gritantes entre ambos foi no apoio inabalável de Meloni à Ucrânia após a invasão da Rússia, em fevereiro de 2022.

Espera-se que os dois líderes discutam a guerra e o papel da Itália numa eventual reconstrução da Ucrânia no pós-guerra.

Trump deverá pressionar Meloni a aumentar a despesa da Itália com a Defesa, que no ano passado ficou muito abaixo do objetivo de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) para os países da aliança militar da NATO. A despesa da Itália, 1,49% do PIB, está entre as mais baixas da Europa.

Apesar das divergências quanto à Ucrânia e aos gastos com a Defesa, Meloni é vista por alguns membros do Governo norte-americano como uma ponte vital com a Europa num momento difícil para as relações transatlânticas.

Trump pretende não só discutir com Meloni a forma como “o mercado italiano pode ser aberto, mas também como pode ajudar os Estados Unidos junto do resto da Europa”, segundo um alto responsável governamental que informou os jornalistas antes da visita e que solicitou o anonimato, de acordo com as regras estabelecidas pela Casa Branca.