EUA deixam em aberto questão de reparações por racismo perante ONU
Os Estados Unidos da América (EUA) prometeram hoje à Organização das Nações Unidas (ONU) fortalecer a luta contra a discriminação racial, mas deixaram em aberto a questão das reparações após séculos de racismo que Washington descreveu como “sistémico”.
“Devemos continuar a fazer esforços fortes e combinados para eliminar o flagelo da discriminação racial no nosso país”, disse a representante especial do Departamento de Estado norte-americano para a Igualdade Racial e Justiça, Desiree Cormier Smith.
Dirigindo-se ao Comité da ONU para a Eliminação da Discriminação Racial (Cerd), que por dois dias examinou o histórico norte-americano nessa área, a representante sublinhou o compromisso de Washington em “eliminar o racismo sistémico”, mas reconheceu que “ainda há muito a fazer”.
Desiree Cormier Smith, de origem afro-americana, co-presidiu a grande delegação norte-americana.
Composto por 18 especialistas, este comité é responsável por monitorizar em intervalos regulares a aplicação da Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial pelos Estados-membros, ratificada pelos EUA em 1994. As suas conclusões serão publicadas em 30 de agosto.
Autoridades norte-americanas foram questionadas sobre tópicos como brutalidade policial e assassínios de cidadãos negros, o aumento do discurso de ódio e o tratamento dado a populações indígenas e migrantes.
Vários especialistas levantaram a questão das reparações, incluindo a sul-africana Faith Dikeledi Pansy Tlakula, que perguntou se o Congresso ou o próprio Presidente dos EUA, Joe Biden, responderiam aos pedidos para a criação de uma comissão para estudar esse dossiê.
Defensores de direitos humanos lamentam que Washington nunca tenha abordado adequadamente os abusos cometidos contra negros durante a escravidão e períodos posteriores de exploração, segregação e violência.
Essa herança, segundo eles, continua a ser visível através de políticas nas áreas de saúde, educação e habitação.
Autoridades dos EUA, que passaram muitas horas a responder a perguntas de especialistas, no entanto, não discutiram a questão das reparações. Conforme previsto no procedimento, eles têm 48 horas para responder por escrito.
Muitos defensores de direitos humanos que se deslocaram a Genebra para participar nos debates deploraram o silêncio de Washington sobre a questão das reparações.
“Esta questão da justiça racial é a mais importante do nosso tempo”, avaliou Vince Warren, diretor executivo do Centro de Direitos Constitucionais (CCR).