Cabo Verde: Cidadãos dizem que é hora de “apertar os cintos” devido à crise económica
Primeiro-ministro reconhece que guerra na Ucrânia tem “efeito mais gravoso” do que a pandemia da Covid-19
Na cidade da Praia, cidadãos descrevem à VOA um cenário difícil com preços altos, falta de emprego e “apertar dos cintos”.
Em declarações em Coimbra, Portugal, nesta quinta-feira, 30, Ulissses Correia e Silva disse que os efeitos da guerra sentem-se “pela vida da inflação, pelo aumento dos preços dos combustíveis, electricidade e produtos alimentares”.
No entanto, ele acredita que “as pessoas só não sentem porque o Governo absorve os efeitos.
Correia e Silva destacou que o seu Governo optou por suspender o sistema de regulação de preços e estabeleceu limites, com o diferencial a ser assumido pelo Estado.
Ele apontou que o Governo vai gastar 80 milhões de euros até Dezembro para mitigar a situação, e esses gastos “não deixam nada, não vão criar nada em termos substanciais para o país”.
Insegurança alimentar
Entretanto, um relatório divulgado recentemente pela Organizaçação para a Agricultura e Alimentação (FAO) e pelo Programa Alimentar Mundial (PAM), ambos da ONU, indica que 181 mil mulheres, homens e crianças enfrentam insegurança alimentar em Cabo Verde.
O Executivo avançou outros números, ao dizer que cerca de 107 mil pessoas estão sob pressão em termos alimentares e 30 mil em situação de insegurança alimentar.
Guerra de números à parte, nas ruas, devido ao aumento galopante dos preços, muitas famílias relatam uma situação bastante difícil.
Num país onde o salário mínimo ronda os 150 dólares e a pensão social de sobrevivência cerca de 65 dólares, fica extremamente difícil a muitos comprarem certos bens essenciais e poderem fazer uma dieta equilibrada ao longo do mês.
Em conversa com a VOA, residentes na capital do país, Praia, dizem que está complicado ir às lojas tendo em conta os preços de certos produtos que quase triplicaram, como óleo , azeite, entre outros.
Cenário de “apertar os cintos”
Cristina Monteiro, uma vendedora ambulante de roupas, à porta de um supermercado na Vila Nova, subúrbio da cidade da Praia, queixa-se do fraco negócio devido à falta de capacidade de compra.
“Temos poucos clientes para comprar vestuários devido à falta de dinheiro, o pouco que têm dão prioridade à alimentação porque os preços dispararam”, conta Monteiro.
Perante este quadro, ela diz que foi forçada “a cortar nos vestuários, produtos de beleza, de limpeza”, entre outros produtos.
Por seu lado, Evandro Jorge descreve um quadro difícil neste momento, devido ao aumento dos preços e falta de emprego.
“Está muito complicado devido à falta de trabalho e dinheiro… e não sabemos como vamos lutar para ultrapassar isso… porque viver de um ou outro extra não ajuda muito, tivemos que deixar de fazer muita coisa como passear com a família, comprar roupas e sapatos”, diz Jorge.
Dados do Instituto Nacional de Estatítiscas indicam que a economia cabo-verdiana cresceu quase 17% no primeiro trimestre, após um aumento de 7% em todo o ano de 2021 e de uma recessão de 14,8% em 2020.
Apesar dessa retoma, a seca, a pandemia e agora os efeitos da guerra na Ucrânia levaram a que, segundo a ONU, 32% da população cabo-verdiana viva em insegurança alimentar, o que fez com que o Governo declarasse estado de emergência económica e social no passado dia 20.
Aquelas agências da ONU afirmam que se o problema não for tratado com urgência, haverá interrupções na produção agrícola e no acesso aos alimentos, colocando mais vidas em risco, já que Cabo Verde depende bastante das importações agroalimentares.