Ataque de drone para matar Putin? Ucrânia nega e EUA desconfiam
Moscovo disse ter impedido uma ação durante a noite contra o Kremlin que visava o presidente russo – que não estava no local. Kiev afirmou não ter nada a ver com o incidente.
Opresidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, negou esta quarta-feira qualquer envolvimento num ataque com drones contra o Kremlin, depois de a Rússia ter acusado Kiev de querer matar o presidente Vladimir Putin. “Não atacamos Putin ou Moscovo, lutamos no nosso território. Não temos armas suficientes para isto”, disse Zelensky em Helsínquia, após um encontro com os líderes de cinco países nórdicos (Finlândia, Suécia, Noruega, Dinamarca e Islândia).
A Rússia anunciou que, durante a noite, os sistemas de radar puseram “fora de ação” dois drones que tinham como alvo a residência de Putin no Kremlin – vários vídeos surgiram entretanto nas redes sociais do alegado momento. Os destroços dos veículos aéreo não tripulado caíram dentro do complexo do palácio presidencial.
“Consideramos essas ações um ato terrorista planeado e um atentado contra a vida do presidente”, indicaram as autoridades russas, apesar de o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, ter dito que Putin não estava no edifício, mas na sua residência próxima da capital. Aliados do presidente apressaram-se a exigir retaliação, defendendo “destruir o regime terrorista de Kiev”. O ex-presidente Dmitry Medvedev defendeu mesmo a “eliminação física” de Zelensky.
A Ucrânia nega contudo a responsabilidade. Antes de Zelensky se pronunciar sobre o tema, já o seu conselheiro, Mykhailo Podolyak, tinha dito que Kiev não tinha “nada a ver” com o alegado ataque de drones e sugeriu que este podia ter sido encenado. No Twitter alegou que a Rússia estará a preparar um “ataque terrorista de larga escala” contra a Ucrânia. Lembrou que um ataque com drones não resolveria qualquer questão militar, mas “dá motivos à Federação Russa para atacar civis”.
O suposto ataque com drones surge depois de vários episódios de sabotagem, nomeadamente nas explosões que causaram descarrilamento de comboios de mercadorias em território russo. Podolyak fala em “atividades de guerrilha de forças de resistência locais”, lembrando também que “os drones podem ser comprados em qualquer loja militar”. O conselheiro de Zelensky concluiu por isso que, “algo se passa na Federação Russa, mas definitivamente sem drones ucranianos sobre o Kremlin”.
Também os EUA se mostraram céticos em relação às acusações da Rússia contra a Ucrânia. “Vi a informação, não a posso validar, simplesmente não sabemos”, disse o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, explicando que desconfia de tudo o que vem do Kremlin.
Moscovo anunciou entretanto a proibição do uso de drones na capital – São Petersburgo fez o mesmo -, com os sinais a surgirem esta quarta-feira junto ao Kremlin, onde se preparam também as comemorações do Dia da Vitória. A 9 de maio, assinala-se a vitória soviética sobre a Alemanha nazi, na II Guerra Mundial. Dmitry Peskov disse que não estão previstas alterações na parada militar que assinala o dia, apesar do ataque com os drones. As comemorações noutras regiões, nomeadamente próximo da fronteira com a Ucrânia, já tinham contudo sido canceladas previamente. Isto numa altura em que se espera o contra-ataque das forças de Kiev. A Rússia intensificou entretanto os seus ataques, tendo pelo menos 21 pessoas morrido e 48 ficado feridas na região de Kherson.
“Ano decisivo”
O presidente ucraniano chegou esta quarta-feira de surpresa à Finlândia, onde se encontrou com o homólogo finlandês, Sauli Niinisto, e os líderes de outros quatro países nórdicos. “Acredito que este ano será decisivo para nós, para a Europa, para a Ucrânia, decisivo para a vitória”, afirmou Zelensky, que voltou a pedir mais armas para fazer face à invasão russa e deu os parabéns à Finlândia pela adesão à NATO. “A Ucrânia precisa das mesmas garantias de segurança”, referiu, dizendo que não há garantia “mais poderosa” do que a adesão à NATO.
Os líderes dos cinco países nórdicos que reuniram com o líder ucraniano deram o seu apoio à adesão da Ucrânia à Aliança Atlântica, assim como à União Europeia. “Os países nórdicos vão continuar o seu apoio político, financeiro, humanitário e militar durante o tempo que for necessário”, indicaram Finlândia, Suécia, Noruega, Dinamarca e Islândia num comunicado conjunto.
Em relação ao armamento pedido por Kiev, os EUA anunciaram o envio de mais um pacote de artilharia pesada e rockets HIMARS para ajudar à contraofensiva ucraniana. Por seu lado, a União Europeia revelou o seu plano para incentivar o aumento da produção de munições dentro do bloco, não só para ajudar a Ucrânia, mas também para fazer face aos problemas de desabastecimentos que os próprios Estados-membros têm. O pacote é no valor de 500 milhões de euros que sairá do Orçamento europeu.