Coleção Mário Teixeira da Silva no Museu do Chiado: o gosto e a paixão
175 obras de artistas portugueses e estrangeiros da Coleção Mário Teixeira da Silva no Museu do Chiado: uma questão de desejo
Uma primeira visita pode ser traiçoeira, esconder mais do que mostrar e não nos deixar ver. Foi o que me aconteceu, apetecendo-me trocar o título da mostra para: “Não sei se lhe deseje uma feliz visita”. O excesso de obras e a deficiente colocação das tabelas introduziam um labirinto escusado, surpreendiam mas cansavam e irritavam. Repetida a visita, o excesso ganhava sentido, bem como a distribuição das obras num percurso em três pisos diferentes, desde a entrada do museu, passando pelo piso intermédio, até aos espaços da Galeria Serpa Pinto no topo. Tudo se organiza entre um primeiro aviso, uma introdução, um segundo aviso e o corpo, ou os corpos, da exposição.
O primeiro aviso é contra o bom gosto como motivação para a eleição das peças, os sapatos pintados de Lisa Milroy e o excesso evidente do estaleiro de obras decorado com motivos florais de Wim Delvoye, peças irónicas, voluntariamente kitsch, que nos previnem: o bom gosto não mora aqui! A introdução mostra um resumo do que falta, apresentando-nos o que a exposição é quanto à escala museológica das peças, quanto à presença dominante, mas não esmagadora, da fotografia, quanto à presença de pintores portugueses do século XIX e ainda quanto à presença constante, mas discreta, de arte tribal africana. O segundo aviso, na entrada da Galeria Serpa Pinto, é uma racha simulada na parede, obra de Patrick Corillon, um memento mori onde a ironia e a transitoriedade andam de mão dada no antigo Convento de São Francisco que o terramoto destruiu e hoje