Desfazer o preconceito contra ciganos em palco: Letícia está “feliz” e Jorge vive um “sonho”
Alegria, abraços, sapateado, palmas e o típico “olé”. No palco do Rivoli, no Porto, respira-se entusiasmo. Lá no meio está Messias Gonzalez. Para ele, o projeto ZHA! Laray, assinado pelo coletivo Visões Úteis e que integra moradores de bairros do Porto, “é uma voz para a comunidade cigana”. “Através dele veem que somos todos iguais”, prossegue Messias, que quer continuar no projeto “para o resto da vida” e demonstrar através da música, da dança e do canto que o preconceito não faz sentido.
“Também temos talento, temos o nosso trabalho e sabemos fazê-lo bem, não somos uns vadios como nos consideram”, sentencia, orgulhoso de mostrar “a realidade do que o cigano é”. A mensagem já foi transmitida aos mais novos. Jorge Maia tem sete anos e não hesitou em fazer parte do projeto, que pretende desmitificar as crenças e os preconceitos relativamente à comunidade cigana. De sorriso no rosto, o pequeno Jorge diz que os dias no Rivoli têm sido “um sonho”. “Quero continuar neste projeto para sempre”, afirmou também.
O espetáculo de flamenco surge como uma linguagem comum entre um encontro de ciganos e não ciganos. Inês de Carvalho, diretora artística, quer “aproveitar este lugar de maior visibilidade para mostrar à sociedade maioritária e à etnia que é possível ser artista cigano”. Por isso, o nome do espetáculo – ZHA! Laray significa vamos viver – deve-se ao facto da “comunidade cigana ter a alegria de viver”, explicou Inês.
Ao longo da apresentação são transmitidas mensagens dos avós. O objetivo é não só “a passagem de conhecimento”, mas também que os artistas “sintam orgulho e respeito pela etnia que irão celebrar em cima do palco”, realçou André Sousa, coordenador social do projeto ZHA!
“Sinto-me feliz”. As palavras de Letícia Maia sintetizam o sentimento de todo o elenco, com esperança de ver a sala cheia.
Documentário e ensaio
As apresentações no Rivoli são dois dos pontos altos de um projeto artístico e social do coletivo Visões Úteis, tendo em vista a valorização da cultura cigana e o seu legado em Portugal. Já foi lançado um CD com oito temas e três videoclipes, seguindo-se, no segundo semestre deste ano, um documentário da autoria de Vasco Mendes e um ensaio de Vanessa Ribeiro Rodrigues. O objetivo, observou Inês de Carvalho, diretora artística do Visões Úteis, é “fazer soar mais alto e mais longe a voz cigana, para fazer ecoar o direito no avesso e nas costuras da cidade e da sociedade”.