Mario Sandoval. Repressor da ditadura argentina julgado após 46 anos
O ex-polícia Mario Sandoval, suspeito de ter participado em centenas de sequestros, torturas e desaparecimentos durante a ditadura argentina, afirmou, esta quarta-feira, ser vítima de um “julgamento político”, em Buenos Aires, onde está a ser sentenciado 46 anos depois.
“Todas as acusações contra mim têm o único propósito de me julgar pelo que eu era: um jovem agente federal na década de 1970″, disse Mario Sandoval, na audiência, referindo que não “cometeu nenhum ato criminalmente condenável”.
“Sou julgado por um tribunal especial no contexto de um julgamento político”, acrescentou.
Após oito anos de batalha judicial, com recursos em França, Mario Sandoval, de 69 anos, foi extraditado para a Argentina, em dezembro de 2019, tendo sido colocado em prisão preventiva.
O ex-inspetor da polícia federal em Buenos Aires é suspeito de ser um dos agentes mais ativos da Escola de Mecânica da Armada (ESMA), que era o centro de detenção e tortura da ditadura, entre 1976 e 1983.
Cerca de 5.000 prisioneiros passaram pela ESMA, a grande maioria desaparecia em “voos da morte”, onde era anestesiada e depois atirada ao largo do rio de La Plata.
Mario Sandoval é também acusado de sequestro, tortura e desaparecimento de Hernán Abriata em 1976.
“É uma procura muito longa de 46 anos por justiça. A família identificou os responsáveis pelo rapto. Aguardamos a condenação, mesmo que não haja prisão perpétua pelos crimes imputados”, nomeadamente sequestro e tortura. “Deve cumprir 25 anos de prisão”, adiantou à agência de notícias France-Presse (AFP) a advogada dos queixosos, Sol Hourcade.
Exilado em França em 1985, após a queda da ditadura argentina, Mario Sandoval construiu uma nova vida naquele país europeu, tornando-se consultor em questões de defesa e segurança
Sandoval chegou a lecionar no Instituto de Estudos Avançados da América Latina (IHEAL, em francês), em Paris.