Partido de Netanyahu acusa ex-ministro Benny Gantz de “fugir da guerra”
“Um homem que fugiu da guerra não vai dar lições de moral ao primeiro-ministro Netanyahu”, escreveu o partido conservador Likud, em resposta às declarações do partido Unidade Nacional, liderado por Gantz, que classificou o líder israelita como “derrotista”.
Os dois partidos passaram o dia numa troca de acusações que começou quando Netanyahu desmentiu o Exército e considerou “inaceitável” um anúncio em que as Forças Armadas se comprometiam a “cessar” parcialmente as suas atividades na cidade palestiniana de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, para permitir a entrada de ajuda humanitária.
“Derrotismo: ter medo de deixar o Exército manobrar”, declarou a Unidade Nacional sobre as ações do primeiro-ministro israelita, que hoje de manhã, na reunião do Governo, acusou Gantz de querer tomar “decisões derrotistas fracassadas” em relação à guerra.
“Gantz, que evitou tomar decisões difíceis, que cedeu a toda a pressão internacional, que aceitou a criação de um Estado palestiniano e que declarou, acima de tudo, que está disposto a pôr fim à guerra antes do regresso de todos os nossos reféns e do cumprimento de todos os nossos objetivos”, acusou o Likud no seu comunicado sobre o ex-ministro.
Benny Gantz abandonou no passado domingo o Governo de emergência, criado na sequência do ataque do movimento islamita palestiniano Hamas a Israel, a 07 de outubro de 2023, para gerir o curso da guerra, devido a divergências com Netanyahu, a quem pediu um plano para pós-guerra em Gaza.
A saída de Gantz foi meramente simbólica, uma vez que o Governo de coligação liderado por Netanyahu tem maioria no parlamento israelita (Knesset), pelo que não necessita do apoio da Unidade Nacional.
No entanto, a determinação do antigo general Gantz beneficiou-o na mais recente sondagem realizada pelo diário israelita Maariv sobre possíveis eleições antecipadas – cuja realização cerca de 57% da população apoia – e colocou-o à frente de Netanyahu, com 27 assentos parlamentares, contra os 20 que o Likud obteria.
A atual coligação no Governo também ficaria aquém da proposta de Gantz numas legislativas antecipadas, caindo para 52 mandatos parlamentares (dos 64 que atualmente detém), ao passo que o ex-ministro ganharia 58 mandatos se se aliasse à oposição.
Israel declarou a 7 de outubro do ano passado uma guerra na Faixa de Gaza para “erradicar” o Hamas horas depois de este ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando 1194 pessoas, na maioria civis.
O Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) – desde 2007 no poder em Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel – fez também 251 reféns, 120 dos quais permanecem em cativeiro e 41 morreram entretanto, segundo o mais recente balanço do Exército israelita.
A guerra, que hoje entrou no 254.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza pelo menos 37.337 mortos e 85.299 feridos, além de cerca de 10 mil desaparecidos, na maioria civis, presumivelmente soterrados nos escombros após oito meses de guerra, de acordo com números atualizados das autoridades locais.
O conflito causou também quase dois milhões de deslocados, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa “situação de fome catastrófica” que está a fazer vítimas – “o número mais elevado alguma vez registado” pela ONU em estudos sobre segurança alimentar no mundo.