Policiais no Ártico querem impedir que região se torne um Velho Oeste

 

(AFP)

Entre cidades fantasmas e homens armados rondando a natureza selvagem, Svalbard tem um ar do Velho Oeste. Mas a mil quilômetros do Polo Norte, um grupo de policiais vigia para que esse território não se torne um lugar sem lei.

 

Do alto de Longyearbyen, capital deste arquipélago norueguês perdido no meio do Ártico, 12 policiais mantêm a ordem entre os quase 3.000 habitantes que vêm de diferentes partes do mundo.

 

De motoneve, helicóptero ou barco, na escuridão total da noite polar de inverno, bem como nos intermináveis dias banhados pelo sol da meia-noite no verão, esses policiais do fim do mundo investigam casos inusitados.

 

Entre as infrações severamente punidas neste frágil ecossistema estão perturbar um urso polar (multa de US$ 1.570) ou quebrar a banquisa com um barco.

 

“Claramente, a maioria dos casos são insignificantes”, admite o chefe de polícia Stein Olav Bredli em seu escritório com vista para o fiorde. São roubos, acidentes com motoneve, uso de drogas, dirigir embriagado…

 

Houve uma época em que se dizia que a infração mais comum neste lugar, onde sempre se tira os sapatos antes de entrar até mesmo em um prédio público, era o roubo de sapatos.

 

No jornal local Svalbardposten, o mais setentrional do mundo, a seção de crimes é bem pequena.

 

“Algumas brigas depois que os bares fecham”, diz o editor Børre Haugli.

 

No entanto, a concentração de armas é alta. O porte de rifle é obrigatório ao sair das comunidades urbanas para não ficar indefeso no caso de encontrar um urso.

 

Desde 1971 aconteceram seis acidentes fatais com estes animais em Svalbard.

 

No cargo desde 2020, Haugli slembra apenas de um roubo de carro. “Provavelmente foram pessoas bêbadas depois de uma festa que viram um carro com a chave dentro”, comenta.

 

Em Svalbard, as portas dos carros e as casas geralmente não ficam trancadas.

 

É uma questão de tradição ter um abrigo disponível no caso de encontrar um urso, mas também reflete a confiança essencial para sobreviver em um ambiente tão hostil.

 

De qualquer forma, onde se esconder quando a rede rodoviária tem apenas 40 quilômetros de extensão e a única conexão com o mundo exterior, a menos de uma longa viagem de barco, é o pequeno aeroporto nos arredores de Longyearbyen?

Isso não impediu que, em 2018, um russo cometesse um assalto. No único banco do arquipélago, que mais tarde foi fechado, Maksim Popov conseguiu roubar cerca de 70.000 coroas (7.350 dólares) sob a mira de uma arma, antes de ser rapidamente preso. Ele foi condenado a um ano de prisão no continente.

 

– Cela vazia –

 

Bredli sempre tranca sua casa com chave. “Uma deformação profissional”, admite o policial, originário da periferia de Oslo, sorrindo.

 

Em um canto do prédio onde trabalha há uma cela que o oficial, que chegou a Svalbard em março, não havia visitado até a chegada da equipe da AFP.

 

Espartana, com apenas uma cama dura e um banheiro atrás de uma porta reforçada, a cela raramente é ocupada.

 

“Ela precisaria de um guarda para vigiá-la permanentemente”, explica Bredli.

 

Esse é um luxo que seu pequeno destacamento não pode se dar, pois, além das 130 denúncias que os 12 agentes processam a cada ano, também devem ficar de guarda 24 horas por dia, sete dias por semana, para operações de busca e resgate.

 

Um barco em apuros, turistas perdidos nas montanhas… são eles que, com a ajuda de dois helicópteros, têm de ir ao resgate.

 

“Imagine um naufrágio, não é fácil evacuar mil passageiros”, diz Bredli.

 

“Uma coisa é trazer passageiros para terra em condições meteorológicas difíceis. Mas a vigilância também é necessária para garantir que eles estejam a salvo da ameaça dos ursos polares”, acrescenta.