Reportagem: Presidente da República recebe Missão Olímpica Portuguesa com orgulho e gratidão

O Picadeiro Real do Museu Nacional dos Coches, em Lisboa, recebeu esta segunda-feira a apresentação da Missão portuguesa para os próximos Jogos Olímpicos, a realizarem-se em Paris.

A cerimónia começou com o discurso de Marco Alves, chefe da Missão lusa às Olimpíadas na capita francesa. O dirigente realçou o contexto geopolítico em que os Jogos se inserem, mencionando, não só “os conflitos que assolam o mundo”, como também, num contexto mais particular, os “efeitos do ato eleitoral de domingo” em França.

Marco Alves fez ainda questão de mencionar que Portugal leva para Paris “a maior representação feminina de sempre”, e que metade dos 73 atletas fará a sua estreia na maior prova desportiva do planeta.

Após as palavras do dirigente, os atletas olímpicos portugueses foram sendo chamados a palco, por modalidades, para receber uma bandeira portuguesa das mãos de Marco Alves, que irão hastear nos seus quartos na aldeia olímpica.

Após a entrega das bandeiras aos atletas presentes, foi a vez de Diana Gomes, presidente da Comissão de Atletas Olímpicos (CAO), tomar o púlpito, e evocar a conhecida história dos 12 trabalhos de Hércules para retratar a forma como o desporto poderá combater tudo o que de negativo o mundo está a mostrar.

“É esta a missão que os nossos atletas levam até Paris, sobretudo no mundo em que nos encontramos, tão conturbado e incerto no que à paz diz respeito. O COP e a CAO, cientes deste contexto, encontram-se, à imagem do construtor do Estádio Olímpico, procurando sempre criar as melhores condições para que a beleza do desporto vença e se sobreponha ao que se apresenta de negativo e nefasto neste mundo”, afirmou Diana Gomes.

No final da cerimónia alguns atletas falaram com os jornalistas, entre os quais Fernando Pimenta. O canoísta já conquistou uma medalha de bronze e de prata em Jogos Olímpicos, mas não olha para a conquista do ouro como o único objetivo ainda por alcançar na carreira.

“Não é o único objetivo que me falta. Felizmente sou um homem que tem objetivos para além de uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos; a nível profissional e pessoal tenho vários objetivos e este acaba por ser um deles. Já que já tenho uma medalha de prata e uma de bronze, porque não acrescentar a que falta? Mas sei o nível de dificuldade que isso acarreta e sei que vou ter muita concorrência; por isso tenho os pés bem assentes na terra. Vou fazer as coisas prova a prova, vou tentar chegar a Paris na minha melhor forma e, quando chegar à final então a partir daí tudo é possível”, afirmou Fernando Pimenta.

Uma das estreantes em Jogos Olímpicos é Vanessa Marina. A ‘B-girl’ vai representar Portugal na modalidade de ‘Breaking’ e confessou sentir-se muito confortável no papel da teoricamente menos favorita, isto apesar de não esconder o desejo natural de alcançar uma medalha.

“Estou muito contente por ser a primeira vez. A qualificação foi muito difícil, por isso estar a representar Portugal e ser uma das 16 melhores do mundo é uma grande felicidade para mim. Um bom resultado é uma medalha; eu sou boa naquilo que faço, senão não chegaria até aqui. Os outros países também o são, acho que todos têm uma arma secreta, algo que os distingue, e eu acho que tenho a minha. Ser vista como ‘underdog’ é algo que me agrada; temos muitos países fortes em prova, principalmente aqueles que levam dois ou mais atletas, Portugal é o único país só com um representante, e eu adoro estar nessa posição”, realçou Vanessa Marina

Finalizada a cerimónia, a comitiva deslocou-se ao Palácio de Belém para ser recebida pelo Presidente da República. Nos jardins do Palácio, Marcelo Rebelo de Sousa deixou a sua gratidão e orgulho aos atletas que irão para Paris representar o país.

“Gratidão a todas e a todos que nos últimos três anos tudo fizeram para estarmos como estaremos em França para defender Portugal e para promover a paz. E, depois, gratidão aos que vão representar Portugal em França, representam Portugal, representam cada um de nós, cada um dos portugueses e cada uma das portuguesas. E essa gratidão é total. E olhando para os atletas e as atletas, as atletas e os atletas que temos aqui, que honra e que orgulho ter-vos como portadores da mensagem da nossa pátria”

O Presidente da República sublinhou também a necessidade dos atletas olímpicos lusos levarem aos Jogos de Paris uma mensagem de paz para um mundo que nem sempre a promove.

“Num mundo que é um mundo de ódio, um mundo de desavença, de intolerância, às vezes indiferença, de confronto, de guerra, Portugal quis ser, quer ser portador da mensagem de paz. Nós somos, desde sempre, plataformas entre oceanos, continentes, e tentamos ser, melhor ou pior, mas tentamos sempre ser portadores dessa mensagem, dessa abertura de avenidas de paz”, acrescentou Marcelo.

Para finalizar, Marcelo Rebelo de Sousa mostrou-se confiante que cada um dos atletas portugueses presentes em Paris irão cumprir todos os seus objetivos.

“[Será uma missão] Bem-sucedida no ir além, mais alto, mais forte, mas também mais aberto, mais compreensivo, mais dialogante, mais compreensivo, mais dialogante. Temos a certeza que os objetivos que cada qual de entre vós fixou a si próprio ou a si própria serão atingidos e superados. A própria presença nestes Jogos Olímpicos representa isso”, concluiu.

Antes do Presidente da República discursou José Manuel Constantino. O presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP) criticou aqueles que realçaram um menor número de atletas olímpicos presentes em Paris, em comparação com as últimas olimpíadas de Tóquio.

“Os Jogos ainda não começaram e já li que esta é a representação mais reduzida desde os Jogos de Sydney, o que é verdade. Precisamos dos números para explicar os problemas. […] Lembro que esta Missão em Paris tem uma redução de oito por cento relativamente aos Jogos de Tóquio. Lembro também que apurámos mais quatro atletas, que, por razão de quota nacional, não se podem deslocar. Se os critérios de apuramento fossem os que vigoraram em Tóquio, havia mais 10 atletas”, afirmou.

O dirigente continuou, projetando possíveis críticas à prestação dos atletas portugueses, assim como os diversos fatores por detrás do seu insuficiente desempenho.

“Que não devia ter ido tanta gente, que fomos gastar dinheiro dos impostos dos portugueses, que o problema reside no desporto escolar, que falta cultura desportiva aos portugueses, que o que faz falta é um plano nacional de rendimento desportivo, que o que faz falta é um presidente do COP que tenha sido atleta olímpico. O que tudo sendo verdade, confunde os fatores correlativos e os fatores de causalidade”, sublinhou.

O presidente do COP acabou por revelar o motivo pelo qual, na sua opinião, alguns países de dimensão menor a Portugal conseguem melhores resultados em Jogos Olímpicos.

“Aí encontramos um fator distintivo: é que a demografia desportiva é superior. A base de praticantes desportivos, na base de qual se constrói a elite desportiva, é bem superior. Portanto, a capacidades de elitização e a variedade das modalidades é superior e talvez valesse a pena olharmos para esse problema”, concluiu.

Ao todo serão 73 os atletas portugueses nos Jogos Olímpicos de Paris, distribuídos por 15 modalidades. A cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris está marcada para o próximo dia 26 de julho (sexta-feira), e onde o canoísta Fernando Pimenta e a marchadora Ana Cabecinha serão os porta-estandartes da equipa portuguesa.