Sandro Araújo: “Serei intransigente na questão do doping”

Em entrevista ao JN, Sandro Araújo partilhou um projeto para tornar o ciclismo nacional mais abrangente e inclusivo e mostrou-se decidido em combater a “nuvem tóxica do doping” que assombra a modalidade. No dia 29 de junho serão eleitos os delegados que, em outubro, vão escolher os próximos órgãos sociais da Federação Portuguesa de Ciclismo.

O que o motivou a avançar com a candidatura à Federação Portuguesa de Ciclismo?

A principal motivação foi trabalhar ao longo destes 12 anos num projeto que foi uma honra imensa. Tive aprendizagem enorme com o Delmino Pereira [presidente cessante], mas por incentivo não só dos meus colegas de direção, como também de vários clubes e outros agentes desportivos, senti que havia condições para podermos levar o ciclismo a um novo patamar. É uma candidatura independente, não numa lógica de continuidade, que defende uma transição construtiva com a experiência desses 12 anos.

Não sendo um projeto de continuidade, que diferenças, sobretudo estruturais, pretende implementar?

É claramente necessário relançar a imagem da modalidade. Perante a nossa comunidade, mas também perante o país. Temos de comunicar mais e melhor para termos um ciclismo total, que inclua todas as vertentes da modalidade. Além disso, serei absolutamente intransigente na questão do doping. É algo que tem prejudicado muito a modalidade. Considero que ainda não se fez o suficiente nesta matéria. Não podemos normalizar o discurso da dopagem. O ciclismo tem sofrido mais com este tema do que outras modalidades. Desvaloriza a imagem deste desporto, cria dificuldade na criação de apoios para organizadores de provas, para atletas e para as próprias equipas, prejudicando ainda a capacidade de atratividade da modalidade para os mais jovens e a retenção dos atletas. Esta nuvem tóxica do doping tem de desaparecer para termos condições de estabelecer parcerias e trabalhar em áreas tão diversas como o ambiente, a educação e a cidadania.

Que outras medidas defende a sua candidatura?

Temos de voltar a trazer o ciclismo para as grandes cidades. É aí que reside a maior parte da população portuguesa e o ciclismo tem ficado cada vez mais ausente. Temos de trazer mais eventos para as cidades de forma inteligente. Temos de ser mais inteligentes nas organizações, usar e promover infraestrutura ciclável existente  e trabalhar de forma articulada com o desporto escolar. É através das escolas que temos de conseguir trazer o ciclismo para as cidades, até porque é aí que estamos cada vez mais. Esta candidatura apresenta um projeto de crescimento coletivo, instruído e participado

Qual é a importância de abranger  as várias vertentes da modalidade para dar mote ao seu “slogan” de ciclismo total?

Não há outro caminho para o crescimento do ciclismo que não seja trazer novos públicos, nomeadamente atraindo mais mulheres e mais raparigas, para praticarem ciclismo de forma regular. Temos apenas 7% de federadas, o que é inaceitável numa modalidade que se pretende de futuro. Além disso, é necessário acolher de pleno direito as vertentes do ciclismo porque a diversidade da modalidade é a sua riqueza. No ciclismo de estrada há desafios muito próprios, e é notório que é preciso encontrar novos modelos. Uma das nossas propostas é duplicar o número de filiados até 2028, incluindo a percentagem de atletas femininas. Outro dos compromissos que queremos assumir é autonomizar a gestão do ciclismo profissional na Federação. Não temos condições para ter uma Liga de Clubes como o futebol, mas também não há razão para que uma estrutura como a da federação não tenha um departamento autónomo com recursos próprios para poder trabalhar de forma adequada o ciclismo profissional, nas suas várias dimensões.

Como vê o facto de haver mais dois candidatos nestas eleições? Sinal de vitalidade?

Nunca na Federação Portuguesa de Ciclismo houve tantas opções do ponto de vista do eleitorado, e é algo salutar e saudável. Os unanimismos são perigosos, tal como, às vezes, alguns arremedos de nepotismo.