Suspeito de atentado de Lockerbie não enfrenta a pena de morte nos EUA
O líbio transferido para os Estados Unidos para responder pelo ataque a um avião de passageiros que explodiu sobre Lockerbie, na Escócia, em 1988, não enfrenta a pena de morte, garantiu esta segunda-feira um procurador federal.
Apena de morte não estava disponível em 1988, a nível federal, para as acusações contra Abu Agila Mohammad Massoud Al-Marimi, explicou um procurador durante uma breve audiência num tribunal em Washington.
As autoridades norte-americanas e escocesas anunciaram no domingo que o líbio estava sob custódia dos EUA.
O voo 103 da Pan Am, que viajava de Londres para Nova Iorque, explodiu sobre Lockerbie, em 21 de dezembro de 1988, causando a morte a todas as 259 pessoas a bordo do avião e outras 11 no solo.
Continua a ser o ataque terrorista mais mortífero em solo britânico.
Mais de três décadas depois do atentado, este ex-oficial dos serviços de inteligência líbios, acusado de fabricar a bomba, compareceu esta segunda-feira perante um tribunal federal norte-americano, acusado de ato de terrorismo internacional.
“Embora quase 34 anos tenham passado desde as ações do réu, inúmeras famílias nunca recuperaram totalmente”, sublinhou o procurador assistente dos EUA, Erik Kenerson, durante a sessão que contou com a presença de familiares das vítimas.
Dois outros elementos dos serviços de inteligência da Líbia foram acusados nos EUA pelo seu alegado envolvimento no ataque, mas Al-Marimi foi o primeiro a comparecer num tribunal norte-americano.
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos tinha anunciado novas acusações contra Al-Marimi em dezembro de 2020, no 32.º aniversário do atentado.
Este atentado expôs a ameaça do terrorismo internacional mais de uma década antes dos ataques de 11 de setembro de 2001, produziu investigações globais e sanções punitivas, ao mesmo tempo que estimulou pedidos de responsabilização pelos familiares das vítimas.
À porta do tribunal encontrava-se esta segunda-feira Paul Hudson, com uma fotografia da sua filha, Melina, uma estudante de 16 anos que estava a regressar para as férias de Natal de um programa de intercâmbio na Inglaterra. A família recuperou o passaporte e o caderno da jovem.
“E o caderno tinha, na capa, a citação ‘Ninguém morre se não for esquecido’, e tenho tentado viver de acordo com isso”, contou o pai à agência Associated Press (AP).
Apenas uma pessoa foi condenada por este atentado, o líbio Abdelbaset Ali Mohamed al-Megrahi, que sempre afirmou ser inocente, sentenciado a prisão perpétua em 2001, após julgamento num tribunal criminal escocês estabelecido em terreno neutro, nos Países Baixos.
Libertado em 20 de agosto de 2009 pela justiça escocesa devido a um cancro terminal, Al-Megrahi, que morreu em 2012, teve uma receção triunfal no seu regresso a Trípoli, o que gerou polémica no Reino Unido, acusado de ter agido para preservar um contrato de petróleo com a Líbia.
Em 2003, o regime do ditador líbio Muammar Kadhafi assumiu oficialmente a responsabilidade pelo ataque e pagou 2.700 milhões de dólares (cerca de 2.650 milhões de euros) em indemnizações às famílias das vítimas.
Após sua queda em 2011, investigadores norte-americanos e escoceses viajaram para a Líbia para explorar novas pistas. Os ‘media’ britânicos mencionaram então o nome de Abou Massoud e de Abdallah Senoussi, ex-chefe dos serviços de inteligência da Líbia e cunhado de Kadhafi.
Na sequência da revolução, Abu Massoud foi detido pelas novas autoridades. Segundo a revista New Yorker, foi condenado em 2015 a dez anos de prisão por ter fabricado bombas usadas em 2011 pelo regime de Kadhafi contra os seus opositores.
Durante um interrogatório em 2012, este admitiu aos serviços de inteligência do novo regime a sua participação no ataque a Lockerbie, mas também contra uma discoteca em Berlim em 1986, que resultou em três mortos, segundo documentos judiciais norte-americanos.